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Entrada: 10€Bilhetes disponíveis em: https://zedosbois.bol.pt/
Rodrigo Amado e David Maranha
Duo com uma cavalagem e visão acumuladas quase inaudito no panorama das músicas mais livres em espectro alargado, este encontro não será tão estranho na sua essência quanto apenas estranho em ter acontecido tão recentemente. Apesar de trajetórias distintas. Se as quisermos balizar a seco para daí chegar a um campo comum, podemos pensar em Amado com todo o seu historial já plenamente reverenciado no jazz e em Maranha com uma marca imponente nos domínios do minimalismo e do drone. Mas nem estes campos são diametralmente opostos, nem os dois músicos se fecham ao abrigo dessas taxonomias, abrindo espaços para cruzamentos, guinadas e inovações de e entre linguagens que partem dessas premissas para se acercarem do rock mais abstracto, da improvisação livre ou de conluios electrónicos. Histórias paralelas que se iam cruzando através de músicos como Manuel Mota ou Gabriel Ferrandini e num engrandecimento do mosaico musical deste cenário, com acolhimento justo fora desta pequena fronteira.
‘Wrecks’, lançado no final do ano passado pela Nariz Entupido, capta o primeiro encontro desta parelha em concerto na Escola do Largo em Lisboa. Feito notável na sua simbiose, encontra os dois músicos alinhados para um mesmo horizonte a partir das suas próprias visões muito pessoais. De longe, podemos pensar no duo de Terry Riley com Don Cherry em Colónia como antecedente espiritual do clash abençoado entre o jazz e o minimalismo, mas esta é toda uma outra música, bem vincada pelo órgão muito próprio de Maranha e pelo saxofone pleno de Amado, numa longa digressão de 44 minutos, que vai de ruminações telúricas as ascensões cósmicas com toda uma noção clara e respirada de dinâmicas, tensões e libertação. O fluxo de som hipnótico de Maranha que se vai reformulando em novas passagens, de paisagens densas a flirts com o ruído, sustento vital para todo um manancial de fraseados de Amado, que vão de momentos líricos a berros intempestivos, da contemplação ao clamor sofrido, numa torrente sombria que vai desenhando linhas de luz, a um tempo seu. BS
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Filipe Felizardo
“Nos últimos anos tenho vindo a entender a minha posição de artista como a de um objecto técnico, por sua vez sujeito às ferramentas a que tenho acesso e às que me cativam mais. Há aspectos do que faço hoje com a guitarra que são fósseis com uma década (riff minimalista, afinação aberta, feedback), e outros que demoram a articular-se intelectual e manualmente e acabam, acho eu, por me transformar. Talvez por andar a explorar a guitarra de 12 cordas eléctrica, acho que a música da Príncipe Discos finalmente me chegou às unhas. Não me admira, tendo em conta o meu deslumbre com todo o catálogo, e também que os percussionistas com quem colaboro me dizem que eu toco “a puxar pra trás”. Intuitivamente, “puxar” é para trás, para si; mas se é “puxar pra trás”, então talvez esteja a puxar para outrém? É certo que não o conseguiria sem essa música me ter aberto o caminho.”
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Event Venue & Nearby Stays
Galeria Zé dos Bois, Rua da Barroca nº59,Lisbon, Portugal
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